Donald Trump quer ter um salão de baile maior do que a própria Casa Branca. O arquiteto quis saltar fora e Trump assume-se como "o designer"
Perry Mason
(1957-1966) – Connie Hines
O arquiteto escolhido por Donald Trump, James McCrery, especializado em igrejas católicas e
defensor da arquitetura clássica, foi chamado à Casa Branca para
desenhar um salão com tetos altos, janelas em arco, vidro à prova de bala e
mobiliário dourado ao gosto do presidente, numa linguagem que evocava a Galeria
dos Espelhos de Versalhes sem esmagar a silhueta histórica do edifício. Até
aqui, tudo bem.
Mas segundo descreve o New York Times, o problema
começou quando a ideia inicial de 500 lugares
passou para 650, depois para 999 e, mais tarde, para 1350, ao mesmo
tempo que Trump aprovava internamente a demolição total da Ala Leste, apesar de
garantir em público que a nova construção não tocaria na Casa Branca existente.
O objetivo declarado foi-se alargando, alargando e alargando:
Trump queria afinal um
salão capaz de receber desde jantares de Estado até uma multidão de investidura
presidencial.
À medida que o projeto crescia, também aumentava o controlo direto
de magnata do imobiliário que também calhou ser presidente norte-americano. O presidente
(falemos agora nessa qualidade) escolheu à mão
os principais empreiteiros —
McCrery Architects, Clark Construction e AECOM — fora dos concursos públicos
habituais, negociou ele próprio valores de contratos, gabou-se de ter baixado o preço da escavação de 3,2 para 2 milhões de dólares e disse a quem
trabalhava na obra (quem escreve é novamente o New York Times) que não
era preciso “preocupar-se com licenças”, regras de urbanismo ou códigos de
construção por se tratar da Casa Branca..
Em paralelo, colocou um
antigo advogado pessoal à frente da comissão federal que deve avaliar o projeto e despediu todo o conselho de belas-artes que tinha aconselhado Harry Truman na última
grande renovação, enquanto a Sociedade de Historiadores de Arquitetura pedia um
processo rigoroso de análise para uma intervenção desta escala.
Face às tensões com o cliente e ao ritmo imposto, McCrery
recuou do envolvimento diário e passou a surgir apenas como “consultor”,
mantendo em público o “orgulho” de trabalhar no projeto.
Trump, que sempre cultivou a imagem de construtor
bem-sucedido, embora nem sempre o tendo sido, tem descrito a obra como um
“sonho antigo”, mais de quatro vezes maior do que o salão de baile de
Mar-a-Lago que chegou a oferecer a Barack Obama e que, a bem dizer, nunca saiu
do papel.
Diz ainda que os contribuintes não pagarão um cêntimo. O custo já subiu de 200 para 300 milhões de dólares,
sim, mas a Casa Branca afirma que foram reunidos
“350 milhões em donativos”, incluindo grandes empresas de tecnologia
e de criptomoedas que prometem materiais e equipamentos.
Mas ao contornar o Congresso e financiar a expansão com
cheques de interesses privados, o presidente afasta o escrutínio parlamentar
num edifício que os historiadores recordam como “o palácio do povo”. Enquanto
isso, o salão de baile soma-se a uma lista de alterações com marca pessoal de
Trump que começou com
molduras e adornos dourados no Salão Oval e na Sala do Conselho, seguiu pelo
relvado do Rose Garden transformado em terraço pavimentado, e vai já nas
fotografias de presidentes emolduradas a ouro (com uma exceção visível: Joe
Biden) e até a casa de banho do Quarto Lincoln foi arrasada e reconstruída em direto
nas redes sociais.
No fim, fica a frase do próprio Trump: “Considero-me um
designer importante”. E caberá a quem vier depois decidir se o novo salão de
baile é legado arquitetónico ou apenas mais uma remodelação em tamanho XXL.
Fonte: CNN Portugal, 29 de novembro
de 2025

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