E-mails divulgados revelam que Jeffrey Epstein ajudou Israel a construir um canal secreto para a Rússia
Perry Mason
(1957-1966) – Robert Lowery, Sherwood Price
O notório traficante sexual Jeffrey Epstein facilitou
esforços para estabelecer um canal secreto entre Israel e a Rússia durante a
guerra civil síria, segundo novos e-mails divulgados. Os documentos, obtidos
por hackers conhecidos como “Handala” e publicados pelo site Drop Site News,
incluem correspondência entre Epstein e o ex-primeiro-ministro israelita Ehud
Barak, com data entre 2013 e 2016.
Os e-mails mostram Epstein a agir como um interlocutor
informal, a organizar encontros, a transmitir informações vindas de círculos
políticos russos e a ajudar a redigir a comunicação para os esforços
diplomáticos de Barak, destinados a obter o apoio da Rússia para a destituição
do presidente sírio Bashar al‑Assad.
Uma troca de mensagens de 2013, verificada pelo Drop Site,
mostra Epstein a aconselhar Barak a propor um encontro direto com o presidente
russo, Vladimir Putin, afirmando: “Acho que deviam avisar Putin que vão estar
em Moscovo. Vejam se ele quer um encontro a sós”. As comunicações divulgadas
sugerem que a dupla procurava apresentar o resultado preferido de Israel, um
fim negociado para a guerra que excluísse Assad, ao mesmo tempo que moldava as
narrativas dos média nos Estados Unidos e na Europa.
O conjunto de documentos inclui um rascunho de um artigo de
opinião coescrito por Barak e editado por Epstein. Intitulado “O Kremlin detém
as chaves”, o artigo não publicado instava Moscovo a liderar uma transição
política na Síria em troca da preservação dos seus interesses na região. Embora
o The New York Times se tenha recusado alegadamente a publicar o artigo,
uma versão posterior foi publicada no The Telegraph a 30 de maio de
2013.
Epstein partilhou também informações sobre figuras europeias
e americanas envolvidas na diplomacia com a Rússia e ofereceu conselhos
estratégicos relacionados com os negócios de Barak com o oligarca russo Viktor
Vekselberg. Durante este período, Barak serviu como consultor do Grupo Renova
de Vekselberg e reportava diretamente a Yuri Ushakov, conselheiro do Kremlin,
para organizar reuniões com Putin, de acordo com os e-mails.
Embora a correspondência não demonstre que o esforço tenha
sido bem-sucedido na remoção de Assad, revela tentativas israelitas de utilizar
canais não oficiais para influenciar o desfecho do conflito. Isto incluiu
pressionar a administração Obama a adotar uma postura mais dura contra o Irão e
a Síria, de acordo com mensagens em que Epstein e Barak discutiram a abordagem
da administração norte-americana.
Os documentos indicam ainda que Epstein ajudou Barak a obter
acesso ao Fórum Económico Internacional de São Petersburgo em 2013 e 2015, onde
Barak manteve conversações à porta fechada com altos funcionários russos,
incluindo o ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, e a governadora
do Banco Central, Elvira Nabiullina. Os e-mails mostram ainda Epstein a
aconselhar Barak sobre como abordar os contactos dos serviços de informação
israelitas, incluindo referências codificadas ao "número 1", que se
entende ser o chefe da Mossad.
Epstein morreu em 2019, enquanto estava sob custódia federal
dos EUA, a aguardar julgamento por acusações de tráfico sexual. Mantinha laços
estreitos com altos funcionários políticos e militares israelitas, incluindo
Barak, que já admitiu ter uma relação pessoal e financeira com ele.
Há anos que se especula que Epstein possa ter atuado como
agente da Mossad, utilizando a sua rede global e o seu acesso a raparigas
menores de idade para atrair e chantagear políticos e líderes empresariais.
Fonte: Middle East Monitor, 3 de novembro de 2025
Jeffrey Epstein e a construção de um canal secreto entre Israel e o Kremlin (2013–2016)
Os e-mails agora revelados entre o ex-primeiro-ministro israelita Ehud Barak e o financista norte-americano Jeffrey Epstein acrescentam uma dimensão até aqui pouco explorada da biografia política de ambos: a participação de Epstein, figura mundialmente conhecida pela sua rede de tráfico sexual e pelos laços com elites financeiras e políticas, como mediador oficioso de uma tentativa de estabelecer um canal diplomático paralelo entre Israel e a Federação Russa durante a guerra civil síria.
As comunicações, datadas de 2013 a 2016, foram obtidas pelo coletivo hacker Handala Hacking Team e divulgadas pela plataforma Distributed Denial of Secrets (DDoSecrets). Inserem-se num período de profunda reconfiguração geopolítica, marcado pela intensificação da guerra civil síria e pela crise ucraniana, que alteraram radicalmente as relações entre Washington, Moscovo e os seus aliados regionais. Para Israel, a emergência da Rússia como fiador do regime de Bashar al-Assad e o fortalecimento da influência iraniana em Damasco criaram uma necessidade urgente de diálogo indireto com o Kremlin.
É neste contexto que Jeffrey Epstein surge como um intermediário informal de Ehud Barak, operando fora das vias diplomáticas oficiais. Num e-mail de 21 de fevereiro de 2014, Epstein escreve a Barak: “With civil unrest exploding in Ukraine, Syria, Somalia, Libya, and the desperation of those in power, isn’t this perfect for you.”1
Barak responde no mesmo dia: “You’re right in a way. But not simple to transform it into a cash flow. A subject for Saturday.” 2
A troca sugere não apenas familiaridade pessoal, mas também a intersecção de motivações políticas e financeiras, indiciando uma prática onde a fronteira entre diplomacia e interesse privado se torna porosa.
Entre os documentos agora públicos encontra-se ainda um rascunho de artigo de opinião, co-escrito por Barak e editado por Epstein, intitulado “The Kremlin Holds the Keys”. Nesse texto, ambos defendem que a Rússia deveria liderar uma transição política na Síria, em troca da preservação dos seus interesses estratégicos na região, propondo uma lógica de compensação diplomática que serviria simultaneamente os interesses de Moscovo e Telavive. 3
Os e-mails também indicam que Epstein facilitou a presença de Barak no Fórum Económico Internacional de São Petersburgo, em 2013 e 2015, onde este manteve encontros à porta fechada com altos funcionários russos, incluindo o ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov. 4
Para além disso, Epstein teria fornecido informações sobre figuras europeias e norte-americanas ligadas à diplomacia russa, e oferecido aconselhamento estratégico nas relações empresariais de Barak com o oligarca russo-israelita Viktor Vekselberg. 5
Não há provas de que estas iniciativas tenham produzido efeitos concretos sobre a política russa em relação à Síria ou sobre o destino de Assad. Contudo, o material divulgado sugere uma tentativa coordenada de criar canais informais de influência israelita sobre Moscovo, num momento em que as relações entre o Ocidente e a Rússia se deterioravam rapidamente após a anexação da Crimeia.
Mais do que uma curiosidade biográfica, o envolvimento de Epstein neste processo ilumina a natureza híbrida do poder contemporâneo, onde o capital privado e a diplomacia de Estado convergem em zonas cinzentas de influência. A sua colaboração com Ehud Barak parece inscrever-se num padrão recorrente de atuação, em que Epstein explorava a sua rede de contactos globais para intermediar interesses geopolíticos, empresariais e pessoais.
Em última análise, o caso mostra como a diplomacia paralela e os operadores privados podem atuar como extensões informais da política externa, escapando aos mecanismos tradicionais de escrutínio. Tal como sugerem as próprias mensagens, Epstein e Barak partilhavam uma conceção instrumental da instabilidade internacional — uma perceção de que o caos político poderia ser transformado em “fluxo de caixa” e oportunidade estratégica. A correspondência entre ambos, ainda que fragmentária, oferece um vislumbre das intersecções opacas entre finança, inteligência e diplomacia, onde o cálculo moral é substituído pela lógica da utilidade.
Notas
1 Daily Caller, “Leaked Emails Reveal Epstein Helped Israel Build Backchannel to Russia,” 31 de outubro de 2025.
2 Ibidem.
3 Middle East Monitor, “Epstein Edited Barak’s Op-Ed Draft Urging Russia to Lead Syria Transition,” 3 de novembro de 2025.
4 Independent Press, “Epstein Facilitated Barak’s Access to Russian Officials at St. Petersburg Forum,” 4 de novembro de 2025.
5 Ibidem.

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