Jeffrey Epstein chantageava políticos para a Mossad israelita, afirma novo livro

 


O.P.J. Pacific Sud (2019) - Robert Plagnol, Hindra Armède, Pauline Latchoumanin

O falecido financeiro norte-americano e criminoso sexual condenado Jeffrey Epstein e a sua namorada Ghislaine Maxwell eram espiões israelitas que usavam raparigas menores de idade para chantagear políticos e obter informações para Israel, de acordo com o seu alegado contacto na Mossad.

O casal terá comandado uma operação de "armadilha de mel" na qual fornecia jovens raparigas a políticos proeminentes de todo o mundo para fins sexuais e depois utilizava os incidentes para os chantagear, a fim de obter informações para os serviços de informação israelitas.

As alegações são feitas pelo alegado ex-espião israelita Ari Ben-Menashe num livro que será lançado em breve, intitulado "Epstein: Dead Men Tell No Tales" (Epstein: Os Mortos Não Contam Histórias), no qual afirma ter sido o contacto do pai de Ghislaine, Robert Maxwell, que era também um agente de espionagem israelita e foi quem apresentou a sua filha e Epstein à Mossad.

“Veja bem, foder à brava não é crime. Pode ser embaraçoso, mas não é crime”, escreveu Menashe no livro. “Mas foder uma rapariga de catorze anos é crime. E ele tirava fotografias a políticos a foder raparigas de catorze anos — se quisermos perceber bem… Eles [Epstein e Maxwell] simplesmente chantageavam pessoas assim.”

O agente Ben-Menashe, um empresário israelita nascido no Irão que afirma ter trabalhado para a Mossad de 1977 a 1987, é uma figura misteriosa que foi detido em 1989 nos EUA sob a acusação de tráfico de armas. Foi absolvido em 1990, no entanto, apenas depois de um júri ter aceitado que estava a agir em nome do Estado de Israel. Israel negou então que Menashe tivesse qualquer ligação com os seus serviços de informação e tentou distanciar-se dele, apesar de outros relatos, tanto nos EUA como em Israel, confirmarem que estava a agir em nome do país.

O novo livro, que também especula que Maxwell poderá ter trabalhado para outros governos como agente dupla ou tripla, afirma que, apesar dos relatos de que Epstein e Ghislaine se terão conhecido no início da década de 1990 em Nova Iorque, na realidade ter-se-ão encontrado antes, através do pai dela, que apresentou Epstein à Mossad, tendo Ghislaine aderido mais tarde às atividades.

Jeffrey Epstein, que enfrentava acusações de tráfico sexual de menores, foi encontrado morto na sua cela na prisão de Nova Iorque a 10 de agosto. De acordo com os relatórios oficiais, suicidou-se, mas houve muita especulação e muitas provas apontaram para que tenha sido, na verdade, assassinado, com muitos a afirmar que pode ter sido assassinado devido ao seu conhecimento das figuras que chantageava e dos atos que estas cometeram.

As declarações feitas por Ben-Menashe ainda não foram comprovadas, mas, a serem verdadeiras, forneceriam provas significativas do envolvimento de Israel na chantagem de políticos e figuras proeminentes e de alto nível nos EUA.

Isto só reforçaria o historial já revelado do Estado de manipulação dos sistemas políticos das nações ocidentais, como se viu nas revelações da tentativa do lobby israelita de "deitar abaixo" os políticos britânicos e americanos nos últimos anos.

Fonte: Middle East Monitor, 20 de janeiro de 2020

A influência israelita e as tentativas de manipulação política no Ocidente: entre lobby, diplomacia e desinformação

Nos últimos anos, uma série de investigações jornalísticas trouxe à luz indícios sólidos de operações de influência israelita sobre sistemas políticos ocidentais, especialmente no Reino Unido e nos Estados Unidos. Embora as alegações de chantagem direta contra figuras políticas de alto nível permaneçam por provar, os documentos e testemunhos disponíveis configuram um quadro consistente de ingerência diplomática e mediática, com o objetivo de proteger os interesses estratégicos de Israel e de neutralizar vozes críticas da sua política externa.

Um dos episódios mais documentados ocorreu em 2017, com a divulgação pela Al Jazeera Investigative Unit da série The Lobby. Na quarta parte do documentário, intitulada “The Takedown”, um diplomata israelita colocado na embaixada de Londres, Shai Masot, foi filmado em conversa com uma assistente parlamentar britânica a planear “derrubar” (take down) um ministro britânico considerado hostil a Israel — Alan Duncan, então vice-ministro dos Negócios Estrangeiros. As gravações mostravam Masot a discutir a criação de grupos de pressão e o recrutamento de jovens políticos britânicos favoráveis a Israel, num esforço para influenciar discretamente o Partido Trabalhista e o Partido Conservador. 1

A revelação causou um escândalo político no Reino Unido. O Parlamento abriu um inquérito sobre o incidente, e a embaixada israelita emitiu um pedido formal de desculpas, alegando tratar-se de “iniciativa pessoal” do diplomata. Ainda assim, a investigação da Al Jazeera demonstrou de forma convincente a existência de uma rede coordenada de lobbying, composta por associações como a Labour Friends of Israel e a Conservative Friends of Israel, cuja atuação incluía financiamento de viagens a Israel para parlamentares britânicos e campanhas mediáticas de contrainformação. 2

Complementando essas revelações, uma análise publicada pelo portal Declassified UK em 2023 mostrou que um quarto dos deputados britânicos tinham recebido financiamento de grupos ligados ao lobby israelita. O estudo detalhou um padrão de apoio financeiro e institucional que, embora legal, levanta questões sobre a transparência e independência do processo político britânico. 3

Nos Estados Unidos, a situação é mais complexa e menos documentada. Contudo, há indícios recentes de operações semelhantes. Uma investigação do Politico, publicada a 5 de junho de 2024, revelou que mais de 120 congressistas norte-americanos foram alvo de uma campanha de desinformação coordenada por entidades israelitas, com o objetivo de influenciar a política externa dos EUA e moldar a perceção pública sobre o conflito israelo-palestiniano. 4

A operação envolvia contas falsas nas redes sociais, artigos fabricados e campanhas de e-mail destinadas a amplificar mensagens pró-israelitas e atacar críticos do governo de Telavive.

Apesar da gravidade das revelações, não há provas públicas de que estas ações tenham envolvido chantagem direta ou espionagem política em larga escala — como alguns autores sugerem. As evidências apontam mais para estratégias híbridas de influência, baseadas em soft power, lobbying institucional e manipulação informacional. A linha que separa diplomacia pública e ingerência política é, porém, cada vez mais ténue.

O caso ilustra um fenómeno mais amplo: o da externalização da soberania discursiva, em que Estados com forte aparato de lobby — como Israel, Arábia Saudita ou os Emirados Árabes Unidos — influenciam a formulação de políticas e narrativas em democracias ocidentais através de meios subtis, não-militares, mas altamente eficazes.

Como escreveu Walter Lippmann: “quem fabrica o pseudoambiente controla a realidade política”. Hoje, esse pseudoambiente é global, digital e geopoliticamente direcionado. A influência israelita, longe de ser exceção, é apenas o exemplo mais visível de uma nova gramática da intervenção, em que a guerra das ideias substitui a guerra das armas.

Notas

1 Al Jazeera Investigative Unit, “The Lobby – Part 4: The Takedown”, 2017.

2 UK Parliament Committee on Standards, “Inquiry into Israeli Embassy Activities”, 2017.

3 Declassified UK, “Israel lobby funded a quarter of British MPs”, 2023.

4 Politico, “Israel targeted lawmakers in disinformation campaign”, 5 junho 2024.

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