Ser brilhante tem um preço: o que a ciência revela sobre a perceção das mulheres inteligentes
Cipolla Colt (1975) - Franco Nero, Emma Cohen
Ter um mestrado, falar várias línguas, trabalhar como
engenheira e possuir um vasto conhecimento geral são sinais particularmente
evidentes de inteligência. No entanto, ser culta não é propriamente lisonjeiro
para as mulheres. As que têm um QI mais elevado parecem ser vistas como menos
atraentes — ou pelo menos é isso que sugere um
estudo bastante sério. O mito da mulher fútil e snobe,
interessada apenas em maquilhagem, continua bem vivo no imaginário coletivo.
Quando a inteligência se torna um “mau hábito”
Na cultura pop, as mulheres inteligentes que fazem fortuna
com livros, jogam xadrez e frequentam conferências partilham um visual típico:
usam óculos grandes, roupas que são a personificação da banalidade e cabelo
impecavelmente arranjado.
Tomemos como exemplo a Velma, de Scooby-Doo: ela usa uma camisola de gola alta, um corte de cabelo tipo “chanel” rígido e óculos retangulares.
Por outro lado, as mulheres cortejadas e associadas aos
padrões tradicionais de beleza são vistas como superficiais. As únicas
conversas que têm giram em torno de jogadores de futebol americano ou da
próxima compra de roupa.
Em suma, uma mulher inteligente é, supostamente, sempre
desinteressante; uma mulher bonita é, inevitavelmente, inculta. Estes
preconceitos, que insinuam que as mulheres não podem ter tudo, estão
profundamente enraizados.
No imaginário coletivo, uma mulher considerada “bonita” não
pode ter o cérebro de Einstein; parece quase uma certeza matemática. É como se
beleza e inteligência não pudessem coexistir numa mulher. Nos homens, a
inteligência é uma qualidade valorizada; nas mulheres, torna-se frequentemente
um fator de repulsa. E não, isto não é apenas uma impressão. Um estudo
conduzido por investigadores da Universidade Estadual de Washington e da
Universidade do Colorado confirmou precisamente essa ideia.
Preconceitos persistentes que confundem beleza e
conhecimento
Os resultados deste estudo não são animadores. Os 200
participantes foram convidados a dar a sua impressão sobre um conjunto de
mulheres apenas com base em fotografias tiradas no seu ambiente de trabalho. E
os resultados parecem confirmar a teoria de que “quanto mais instruída a
pessoa, menos atraente ela é”.
A maioria dos inquiridos afirmou que as mulheres
consideradas mais atraentes pareciam menos honestas do que as restantes. Foram
também percebidas como menos confiáveis e mais propensas a serem despedidas.
Nos homens, quando demonstram inteligência, ganham pontos e
carisma. Mas, segundo este estudo, para as mulheres acontece precisamente o
contrário. Porquê? Muito provavelmente porque, desde tempos imemoriais, as
mulheres têm sido retratadas como inferiores, ingénuas, irresponsáveis e
superficiais. Lembremo-nos da época da
objetificação da mulher, a era do “és linda, mas cala-te”. Infelizmente,
alguns vestígios desse pensamento ainda persistem.
No entanto, a explicação mais plausível, segundo os
psicólogos, é o chamado efeito de diluição.
Tendemos a pensar que uma pessoa — ou coisa — que desempenha duas funções ao
mesmo tempo será menos eficiente do que alguém que se especializa apenas numa.
Em resumo: se uma mulher passa o tempo a ler Voltaire, a ouvir podcasts de
História e a ver canais educativos, então não pode, ao mesmo tempo, estar no
auge da sua forma física.
Quando a inteligência feminina assusta os homens
De acordo com uma certa mentalidade coletiva, as mulheres
podem fazer várias tarefas em simultâneo — quase como uma obrigação —, mas não
podem possuir todas as qualidades ao mesmo tempo. Os homens, aparentemente, têm
esse privilégio, mas as suas contrapartes femininas devem contentar-se com
apenas uma força. Naturalmente, dentro desta lógica, mulheres que se destacam
no que fazem, que são elegantes e que, além disso, têm sentido de humor, acabam
vistas como ameaças. Inspiram desconfiança e despertam boatos. E não, isto não
é fruto de nenhuma conspiração feminista.
Um estudo publicado na revista Personality and Social
Psychology em 2015 confirma esta dinâmica. Depois de fazerem um teste de
QI, os homens encontraram-se com mulheres que tinham realizado exatamente o
mesmo exame. Surpreendentemente, mostraram-se menos atraídos e
significativamente mais distantes das mulheres que obtiveram pontuações
superiores às deles. Isto é simplesmente um resquício da era patriarcal — uma
época em que as mulheres eram peões no tabuleiro, e não rainhas capazes de
impor a sua autoridade.
Se as mulheres inteligentes não são valorizadas pelo seu
verdadeiro potencial, é porque representam precisamente tudo aquilo que muitos
homens temem. Mas isso não significa, de modo algum, que devam reprimir o seu
intelecto.
Fonte: The Body Optimist, 29 de novembro de 2025




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