Não preciso de um irmão mais velho. Apoio de Trump divide extrema-direita europeia
Perry Mason (1957-1966) – Dianne Foster
A nova Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos,
apresentada pela administração de Donald Trump, está a causar discórdias dentro
dos partidos da extrema-direita europeia. Enquanto alguns veem no apoio
norte-americano uma oportunidade de reforço político, outros — como o
Rassemblement National (ou Reagrupamento Nacional) — rejeitam qualquer apoio
externo, defendendo a soberania e a autonomia das decisões nacionais.
O documento estratégico norte-americano divulgado na passada
sexta-feira, alerta para um alegado “apagamento
civilizacional” da Europa, devido à Imigração, ao declínio demográfico e à
perda de identidades nacionais, e elogia a ascensão de “partidos patrióticos”
no continente.
Na Alemanha, a Alternativa para a Alemanha (AfD) acolheu o
apoio vindo de Washington como uma oportunidade estratégica para quebrar o
isolamento político.
“Este é um reconhecimento direto do nosso trabalho”, afirmou
o eurodeputado Petr Bystron, destacando que a defesa da “soberania, remigração
e paz” coincide com as prioridades enumeradas pela administração Trump.
A copresidente Alice Weidel, foi ainda mais longe ao apresentar a estratégia norte-americana como validação da necessidade da AfD no panorama político alemão.
No entanto, em França, Jordan Bardella, líder do
Rassemblement National, disse estar de acordo com a agenda anti-imigração de
Trump, mas foi claro ao rejeitar qualquer forma de influência dos EUA sobre a
política francesa.
“Sou francês, por isso não
gosto de vassalagem e não preciso de um irmão mais velho como Trump para
decidir o destino do meu país”, afirmou ao jornal britânico Telegraph.
As diferenças entre a AfD e o Rassemblement National revelam
mais cálculos internos do que divergências ideológicas.
Enquanto o partido alemão vê vantagens em associar-se ao
presidente norte-americano para quebrar o isolamento e pressionar os
conservadores alemães a aceitarem coligações, o Rassemblement National teme que
a proximidade a Trump afaste eleitores. Em França, o presidente norte-americano
continua impopular, mesmo entre parte do eleitorado do partido de Marine Le
Pen.
O debate ultrapassou o plano partidário e chegou às
instituições europeias. O presidente do Conselho
Europeu, António Costa, criticou a estratégia dos EUA, afirmando que
“a Europa não pode aceitar uma ameaça de interferência na sua vida política”.
Trump respondeu, reiterando que apoiará líderes e forças
políticas europeias que partilhem da sua visão, descrevendo a Europa como um
conjunto de nações “em decadência” com dirigentes “fracos”.
Washington defende que a Europa deve “sustentar-se por si
própria” na defesa, resistindo à influência de “potências adversárias”, e
insiste no apoio explícito a partidos nacionalistas que considera alinhados com
os seus objetivos estratégicos.
Num momento em que a influência externa volta ao centro do
debate europeu, as discórdias prometem intensificar-se e o debate sobre o grau
de autonomia política da Europa face aos Estados Unidos mantem-se em constante
desenvolvimento.
Fonte: RTP, 10 de dezembro de 2025

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