União Europeia lamenta que a administração Trump se tenha antecipado a um acordo sobre terras raras com o Brasil


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A União Europeia (UE) entrou tardiamente na corrida aos minerais de terras raras na América Latina, meses depois de os Estados Unidos terem começado a negociar um acordo com o Brasil

As autoridades da UE procuraram uma linguagem diplomática para expressar o seu desejo de se tornarem menos dependentes da China, que controla cerca de 60% da oferta e 90% da capacidade de refinação destes valiosos minerais. A China utiliza agressivamente a sua posição dominante no mercado como forma de pressão política, ameaçando cortar o fornecimento aos países que desagradam a Pequim, e manipula os preços para impedir que os concorrentes do mercado livre quebrem o seu controlo sobre a cadeia de abastecimento de terras raras.

“Queremos limitar os nossos riscos no caso de haver um grande conflito entre a China e os EUA”, explicou Stéphane Séjourne, Comissário Europeu para a Indústria, durante uma entrevista na semana passada sobre a corrida da UE para construir fábricas de ímanes e outros locais de produção de terras raras.

Sejourne afirmou que a Europa quer “tornar-se mais autossuficiente”, especialmente depois de ver a China utilizar controlos de exportação para prejudicar a cadeia de abastecimento mundial de terras raras por duas vezes no último ano. Tal como a maioria das autoridades europeias, preferiu falar em “redução de riscos” através do desenvolvimento de fontes alternativas para os minerais processados, em vez de “desacoplamento” da China, uma expressão que irrita Pequim.

“Os EUA querem tornar-se 100% independentes. Nós não”, disse Sejourne. “Precisamos de investimentos chineses, e não é necessariamente um problema se a tecnologia vier da China. O que importa é que não queremos mais ser suscetíveis à chantagem geopolítica quando as tensões aumentam.”

O objetivo atual da UE é que 10% das matérias-primas críticas sejam provenientes de minas europeias e que 40% do processamento necessário ocorra na Europa, no prazo de cinco anos.

A busca de Sejourne por fontes alternativas de minerais de terras raras levou-o ao Brasil – onde descobriu que os americanos já se tinham adiantado.

No mês passado, deveria ir ao Brasil falar sobre uma mina de extração de metais de terras raras. Três dias antes, disseram-nos que os americanos apareceram, colocaram dinheiro em cima da mesa e compraram toda a produção até 2030”, lamentou.

“Presumimos que não havia dinheiro disponível por causa da paralisação do governo”, disse, referindo-se à paralisação do governo norte-americano promovida pelo Partido Democrata, que estava em vigor na altura. “Já tinham levado isso em consideração. O dinheiro já estava reservado.”

Sejourne mencionou outra área em que a administração Trump agiu rapidamente e deu um exemplo a seguir pela Europa: o estabelecimento de preços mínimos para os minerais críticos, o que impede a China de inundar o mercado e de baixar os preços sempre que os concorrentes estrangeiros procuram investimento para as suas próprias minas e refinarias. Segundo Sejourne, as empresas europeias estão a exigir uma proteção semelhante antes de fazerem os grandes investimentos na mineração e nas refinarias exigidos pelo plano de desenvolvimento da UE.

Quando o entrevistador observou que a sua “visão lembra, por vezes, a de Trump”, Séjourne respondeu: “Não partilho dos seus métodos, mas partilho da sua agenda, no sentido em que acredito que devemos reindustrializar a Europa”.

No início de dezembro, a Comissão Europeia anunciou que iria investir cerca de 3,5 mil milhões de dólares na extração, refinação e reciclagem de minerais críticos e estabelecer um “Centro Europeu de Matérias-Primas Críticas” no próximo ano.

A reciclagem de terras raras e minerais críticos provenientes de ímanes que chegam ao fim da sua vida útil e de lixo eletrónico é um tema em voga no setor atualmente. Em novembro, a administração Trump anunciou uma parceria de 1,4 mil milhões de dólares com duas empresas, a Vulcan Elements e a ReElement Technologies, para desenvolver uma cadeia de abastecimento nacional para ímanes. A ReElement Technologies concentra-se na reciclagem e recuperação de minerais.

Os europeus estão a constatar a cada passo que a administração Trump está a “negociar acordos bilaterais em todo o lado para garantir os seus próprios fornecimentos”, como afirmou a Agence France-Presse (AFP). A experiência de Sejourne no Brasil foi um exemplo de como os europeus chegam à mesa das negociações com alguns dias ou semanas de atraso.

Na segunda-feira, o Brasil deu um importante passo legislativo no sentido do estabelecimento de uma política nacional para organizar a produção de minerais críticos, incluindo orientações para o fornecimento em larga escala de lítio, níquel, grafite e terras raras. Os deputados brasileiros citaram o grande interesse dos EUA na compra destes minerais como um dos motivos para acelerar a tramitação da legislação.

Fonte: Breitbart, 10 de dezembro de 2025

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