Batalha das pontes: explosão das infraestruturas nevrálgicas pode desvendar estratégia da contraofensiva ucraniana
Cross of
Iron (1977)
O ataque à ponte de Chonhar, que dá acesso à Crimeia e é uma
artéria importante para transporte e abastecimento das tropas russas, é mais um
passo numa estratégia concertada. De acordo com os analistas consultados pelo
Expresso, é possível antever os objetivos da batalha das pontes
Ao longo de 16 meses de guerra, as forças russas não
pouparam em criatividade para “aterrorizar” os militares (e civis) ucranianos. No
entanto, os estrategos russos não contavam encontrar adversários à altura.
Depois de as tropas da Ucrânia terem conduzido mais um ataque contra uma ponte,
que ligava a região de Kherson à Crimeia, tornou-se evidente, de acordo com os
investigadores da área da Defesa, que os ucranianos são também capazes de
provocar o pânico entre as tropas inimigas. “O ataque à ponte de Chonhar deve
ter um efeito psicológico”, argumenta Marina Miron, investigadora do Centro
de Ética Militar do Departamento de Estudos de Defesa, em Londres, e
analista da área de conflitos modernos. "Mesmo que a ponte seja consertada,
as forças russas em Kherson não devem sentir-se seguras, seguindo o raciocínio
ucraniano."
A retirada do Grupo Wagner do campo de batalha na Ucrânia é
“extremamente desestabilizadora para o esforço militar russo”, lembra também
Maximiliam Hess, analista de geopolítica do ‘think tank’ norte-americano
Foreign Policy Research Institute. “A melhor unidade de combate a mover-se
e a atacar o Exército russo pela retaguarda abre uma grande oportunidade para a
Ucrânia, que pode, assim, avançar com sua contraofensiva.” Esta pode ser a
“primeira grande oportunidade da Ucrânia”, considera também Kelly Grieco. A
analista não tem dúvidas de que os soldados ucranianos tentarão tirar proveito
dos mais recentes desenvolvimentos. “Independentemente de como a revolta se
desenrole, nos próximos dias, o comando e controlo da Rússia, bem como a coesão
militar, serão afetados negativamente."
O caos político-militar só pode ajudar a Ucrânia na sua
contraofensiva, advogam os analistas. “Espero que os ucranianos aguardem alguns
dias e, se o caos continuar, tentem algo dramático”, admite Alexander Motyl,
professor de Ciência Política na Universidade Rutgers-Newark, nos Estados
Unidos, e especialista em Ucrânia, Rússia, URSS e nacionalismo. É uma ajuda
tremenda, sublinha também Maximilian Hess, analista de geopolítica do ‘think
tank’ norte-americano Foreign Policy Research Institute. “Espero que os
ucranianos estejam a apreciar os eventos, e que possam explorá-los para
recuperar um território significativo.” A debandada do Grupo Wagner, no leste,
abre, assim, uma brecha para o contra-ataque. “Não estou a dizer que o Grupo
Wagner e a Ucrânia vão ser aliados, certamente que não. Mas é uma tremenda
oportunidade.”
Fonte: Expresso, 27 de junho de 2023
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