Nuvem da Microsoft ajuda Israel a preparar operações contra os palestinianos
O.P.J.
Pacific Sud (2019) - Marielle Karabeu, Sarah Rivière, Yaëlle Trules, Nathan
Dellemme
Os
serviços de inteligência israelitas utilizam servidores da nuvem Azure da
Microsoft para armazenar dados sobre palestinianos, em Gaza e na Cisjordânia,
que são depois usados para planear ataques aéreos e operações militares. Israel
recolhia e guardava, inclusive, registos telefónicos, segundo uma investigação
do britânico Guardian com as hebraicas +972 Magazine e Local
Call
A Unidade 8200,
agência de inteligência militar de Israel, transferiu arquivos de áudio de
milhões de palestinianos para a plataforma de computação em nuvem da Microsoft.
A investigação é do Guardian, em conjunto com a +972 Magazine e a
hebraica Local Call, que através de entrevistas a fontes próximas à
grande tecnológica norte-americana e a documentos a que o jornal britânico teve
acesso revela uma das maiores e mais invasivas coleções de dados de vigilância
com foco num único grupo populacional.
Numa reunião na sede da Microsoft em Seattle, no final de
2021, o então chefe da Unidade 8200, Yossi Sariel, conseguiu
garantir o apoio do CEO da gigante da tecnologia, Satya Nadella,
para desenvolver uma área personalizada e segregada dentro do Azure, o que
facilitou o projeto de vigilância em massa do exército israelita.
Segundo fontes próximas, Sariel contatou a Microsoft
alegando que os serviços de inteligência israelitas tinham necessidade de mover
grandes quantidades de dados e informação ultrassecreta para o sistema de nuvem
da empresa norte-americana porque não podiam ser armazenados apenas nos
servidores militares.
Quando teve acesso a capacidade de armazenamento quase
ilimitada do Azure, a Unidade 8200 começou a produzir uma nova e poderosa
ferramenta de vigilância em massa: um sistema abrangente e intrusivo que
recolhe e armazena gravações de milhões de chamadas de telefone feitas todos os
dias por palestinianos em Gaza e na Cisjordânia ocupada. Sistema de espionagem que começou a funcionar já em 2022.
A Microsoft assegura que o
CEO desconhecia que tipo de dados
a Unidade 8200 tencionava armazenar no Azure. Mas um conjunto de documentos
vazados da Microsoft e entrevistas com 11 fontes da empresa e da inteligência
militar israelita revela de que forma o sistema Azure foi usado pela Unidade
8200 para armazenar esse vasto arquivo de comunicações palestinianas. As mesmas
fontes, nas quais se baseou a investigação, a plataforma de armazenamento então
desenvolvida veio a facilitar a preparação de ataques aéreos e de operações
militares nos territórios ocupados.
Israel controla a
infraestrutura de telecomunicações de Gaza
e já intercetava há muito as ligações telefónicas nos territórios
ocupados, mas este novo sistema criado a partir da nuvem da Microsoft permite
que os serviços de inteligência reproduzam o conteúdo das chamadas feitas pelos
palestinianos, registando conversas de um grupo muito maior de civis.
Fontes dos serviços secretos com conhecimento do projeto
confirmaram que as autoridades israelitas recorreram à Microsoft após concluir
que não tinha espaço de armazenamento ou poder de computação suficiente nos
servidores militares para suportar o peso das ligações telefónicas de toda a
população. Segundo a investigação, o objetivo
era aceder a “um milhão de chamadas por hora”.
Os arquivos da Microsoft a que o Guardian teve
acesso, sugerem que uma grande parte dos dados confidenciais da unidade pode
estar agora armazenada nos servidores da empresa nos Países Baixos e na
Irlanda.
Fonte: RTP, 6 de agosto de 2025
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