Lucros recorde e faturação de 4,2 mil milhões com juros: eis o primeiro semestre na banca
Beyond the
Law (2019) – Chester Rushing
Subida das taxas de juro continua a impulsionar os
resultados dos bancos, mas também já está a fazer baixas no negócio bancário,
com o crédito e os depósitos em queda.
Os principais bancos portugueses tiveram um lucro recorde
de 1,99 mil milhões de euros no primeiro semestre do ano, em que faturaram mais de 4,2 mil
milhões na margem financeira. Como era
esperado, a subida das taxas de juro continuou a impulsionar os resultados da
banca. Mas
também já está a provocar baixas no negócio: tanto o crédito e os depósitos
caíram.
Caixa Geral de Depósitos, BCP, Santander
Totta, BPI e Novobanco lucraram mais de 11 milhões de euros
por dia na primeira metade do ano, um resultado
nunca visto – pelo menos desde 2008,
antes da grave crise afundar o setor.
Embora cada um tenha um negócio muito próprio, a margem financeira foi o
principal motor dos resultados dos cinco principais bancos do mercado nacional.
“O ano está a correr muito bem”, disse o
CEO do BCP, Miguel Maya. Os outros banqueiros também têm muitas razões para
sorrir.
Entre os
juros cobrados nos empréstimos às famílias e empresas e os juros pagos nos
depósitos, os bancos viram a faturação quase duplicar entre janeiro e junho
deste ano: mais de 4,2 mil milhões em juros significou 23 milhões por
dia. Foi o resultado, sobretudo, de o aumento das taxas de juro se ter
refletido mais rapidamente nos empréstimos do que nos depósitos, o que tem
motivado muitas críticas aos bancos.
Já as comissões líquidas – outra parte importante do
negócio dos bancos – tiveram um decréscimo de cerca de 2% para 1,2 mil milhões
de euros. Um valor que não deixa de ser relevante depois de terem carregado no
preçário nos últimos anos para contrariar os juros baixos.
O bom desempenho atirou o setor para patamares de
rentabilidade elevados, um tema que era até há pouco tempo o “calcanhar de
Aquiles” da banca portuguesa e uma fonte de preocupação para as autoridades de
supervisão.
O Novobanco, que apresentou um lucro de 373 milhões
de euros até junho, atingiu um ROE (rentabilidade dos capitais próprios) de
28%, batendo toda a concorrência. Só a Caixa se aproximou destes níveis,
com um ROE de 20%. O BCP, cuja atividade continuou a ser pressionada
pela Polónia, deu o maior salto em termos de rentabilidade, passando de um ROE
de 2,4% há um ano para 16,8%. Uma performance que “escancara” a porta para a distribuição de
dividendos, como adiantou o CEO Miguel Maya.
Crédito em queda, depósitos estancam fuga
Se a subida dos juros está a dar mais receita aos bancos,
também está a ter um impacto negativo no balanço. Tanto o crédito concedido
à economia como os depósitos caíram no semestre passado. Sendo que os
depósitos até já estancaram a fuga que estavam a registar para os Certificados
de Aforro.
Os
banqueiros afastaram a crítica/acusação de que tenham pressionado o Governo a
baixar a remuneração dos certificados, dada a razia que estava a provocar nos depósitos.
“Não houve conversa, nem de corredor”, reagiu o CEO do BCP. “É um mito”, disse Paulo Macedo.
Junho foi já um mês de recuperação das poupanças dos
depositantes, mas não compensou as saídas de 7,4 mil milhões de euros em
comparação com o ano passado.
Além dos certificados, muitas famílias optaram por fazer
reembolsos do crédito para baixar a prestação da casa e fizeram-no recorrendo
às poupanças depositadas nos bancos, o que também ajuda a explicar a contração
do stock de depósitos neste período.
Em relação ao crédito, a contração da carteira dá-se pelas
amortizações antecipadas, mas não só. Há menos procura por crédito e
também as empresas estão a adiar investimentos ou estão a gerar mais dinheiro,
pelo que já não necessitam do financiamento bancário, explicaram os
responsáveis do Santander.
“Menos crédito e menos poupança. É uma tendência que vai
continuar a haver um decréscimo enquanto tivermos esta situação de crescimento
económico muito baixo ou de recessão, no caso da Europa”, explicou Pedro Castro
e Almeida.
Mais de 50 mil créditos renegociados, mas não há problema
Os bancos revelaram que renegociaram mais de 50 mil
créditos, na sua maioria por iniciativa própria do que ao abrigo do decreto-lei
80-A/2022 que obriga as
instituições a encontrar uma solução para as famílias em maiores dificuldades.
Ainda assim, os banqueiros consideram que “não há um
problema transversal” no crédito da casa, embora reconheçam que há casos
pontuais que têm tentado resolver.
Os líderes da Caixa e do BPI colocaram as coisas noutros
termos: de que nenhuma casa foi executada por incumprimento no pagamento da
prestação. “As pessoas têm feito um esforço
significativo nas contas para conseguirem pagar o crédito à habitação”,
salientou João Pedro Oliveira e Costa.
Fonte: Eco, 29 de julho de 2023
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