Para onde foi o Homo sapiens depois de abandonar África? Novo estudo tem resposta
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vs. Kong (2021)
A nossa espécie surgiu em África há mais de 300 mil anos, com uma migração
para fora do continente africano há 60 mil a 70 mil anos, dando início à
propagação global do Homo sapiens. Mas a grande questão é: para onde foi o Homo
sapiens depois de sair de África?
Segundo um novo estudo, divulgado na última edição da
revista Nature Communications e partilhado pela Reuters, estes grupos de
caçadores-recolectores parecem ter permanecido durante milhares de anos como uma população homogénea num centro geográfico
que abrangia o Irão,
o Sudeste do Iraque
e o Nordeste da Arábia
Saudita, antes de colonizarem toda a Ásia e a Europa há cerca de 45 mil
anos.
As descobertas basearam-se em conjuntos de dados genómicos
extraídos de ADN antigo e de bancos genéticos modernos, combinados com provas
paleoecológicas que mostraram que esta região teria representado um habitat
ideal.
Os investigadores chamaram a esta região, parte do
denominado planalto iraniano, um 'centro' geográfico para estas pessoas — que
talvez fossem apenas alguns milhares — antes de continuarem a avançar, milénios
mais tarde, para locais mais distantes.
“Os nossos resultados fornecem a primeira imagem completa do
paradeiro dos antepassados de todos os atuais não-africanos nas fases iniciais
da colonização da Eurásia”, afirmou o antropólogo molecular Luca Pagani, da
Universidade de Pádua, autor principal do estudo publicado na revista Nature
Communications.
"É uma história sobre
nós e a nossa história”
O antropólogo e coautor do estudo Michael Petraglia, diretor
do Centro de Investigação Australiano para a Evolução Humana da Universidade de
Griffith (na Austrália), disse que o estudo “é uma história sobre nós e a nossa
história — o nosso objetivo era desvendar alguns dos mistérios sobre a nossa
evolução e a nossa dispersão mundial”.
“A combinação de modelos genéticos e paleoecológicos
permitiu-nos prever o local onde as primeiras populações humanas residiram logo
que saíram de África”, acrescentou Michael Petraglia.
Estes povos viviam em pequenos grupos móveis de
caçadores-recolectores, segundo os investigadores.
A
localização do 'centro' oferecia uma variedade de ambientes ecológicos, desde
florestas a pradarias e savanas, flutuando ao longo do tempo entre
períodos áridos e húmidos. Teria havido amplos recursos disponíveis, com provas
que mostram a caça de gazelas selvagens, ovelhas e cabras, disse Petraglia.
“A sua
dieta teria sido composta por plantas comestíveis e caça de animais de pequeno
e grande porte. Os grupos de caçadores-recolectores parecem ter praticado um
estilo de vida sazonal, vivendo nas terras baixas nos meses mais frios e nas
regiões montanhosas nos meses mais quentes”, destacou Petraglia.
As pessoas
que habitavam o 'centro' na altura aparentemente tinham pele e cabelos escuros,
talvez parecidos com as etnias gumuz ou anuak que agora vivem em partes da
África Oriental, segundo Pagani.
"A arte rupestre apareceu simultaneamente assim que as
pessoas deixaram o centro. Portanto, estas realizações culturais podem ter sido
preparadas enquanto estavam no 'centro'”, disse Pagani.
A sua
eventual dispersão em diferentes direções para além do centro estabeleceu a
base para a divergência genética entre os atuais asiáticos orientais e os
europeus, de acordo com os investigadores.
Estudo explorou dados
genómicos modernos e antigos de povos europeus e asiáticos
“Encontrámos uma utilidade especial nos genomas mais
antigos, que datam de há 45 mil a 35 mil anos”, afirmou o antropólogo molecular
e também principal autor do estudo Leonardo Vallini, da Universidade de Pádua e
da Universidade de Mainz, na Alemanha.
Os investigadores desenvolveram uma forma de desemaranhar a
extensa mistura genética de populações que ocorreu desde a dispersão do
'centro', a fim de identificar esta região.
Houve excursões anteriores de pequena escala do Homo sapiens
para fora de África, antes da migração crucial de 60 000 a 70 000 anos atrás,
mas estas parecem ter sido becos sem saída.
O Homo
sapiens não foi a primeira espécie humana a viver fora de África – incluindo a
área que abrange o 'centro'. O cruzamento antigo da nossa espécie deixou uma
pequena contribuição Neandertal para o ADN dos humanos modernos não-africanos.
“Os neandertais estão presentes na zona antes da chegada do
Homo sapiens, pelo que o 'centro' pode muito bem ter sido o local dessa interação”,
concluiu Vallini.
Fonte: SIC Notícias, 30 de março de 2024
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