O que provocou o declínio do Império Romano na Grã-Bretanha?
Perry Mason
(1957-1966) – Nan Leslie, William Swan, Will Wright, Raymond Burr
Os
investigadores argumentam que os pictos, os escoceses e os saxões aproveitaram
a fome e o colapso social causados por um período extremo de seca para desferir
golpes devastadores nas enfraquecidas defesas romanas em 367 d.C.
Três anos consecutivos de seca contribuíram para a
"Conspiração Bárbara", um momento crucial no declínio da Britânia
romana, de acordo com um novo estudo liderado por Cambridge.
Os investigadores argumentam que os
pictos, os escoceses e os saxões aproveitaram
a fome e o colapso social causados por um período extremo de seca para desferir
golpes devastadores nas enfraquecidas defesas romanas em 367 d.C.
Embora Roma tenha eventualmente restaurado a ordem, alguns
historiadores argumentam que a província nunca recuperou totalmente, noticiou
na segunda-feira a agência Europa Press.
Entenda o que foi a "Conspiração Bárbara"
A "Conspiração Bárbara" de 367 d.C. foi uma das
mais sérias ameaças ao controlo de Roma sobre a Grã-Bretanha desde a revolta de
Boudicca, três séculos antes.
Fontes contemporâneas indicam que alguns membros da
guarnição da Muralha de Adriano se revoltaram e permitiram que os Pictos
atacassem a província romana por terra e por mar. Ao mesmo tempo, os escoceses
da atual Irlanda invadiram amplamente o oeste, e os saxões do continente
desembarcaram no sul.
Altos comandantes romanos foram capturados ou mortos, e
diz-se que alguns soldados desertaram e se juntaram aos invasores. Durante a
primavera e o verão, pequenos grupos deambulavam e saqueavam o campo.
A queda da Grã-Bretanha na anarquia foi desastrosa para
Roma, e foram necessários dois anos para que os generais enviados por Valentim I, Imperador
do Império Romano do Ocidente, restaurassem a ordem.
Os últimos vestígios da administração oficial romana
abandonaram a Grã-Bretanha cerca de 40 anos depois, por volta de 410 d.C.
Secas foram fator determinante
O estudo liderado pela Universidade de Cambridge, publicado
na revista científica Climatic Change, utilizou registos de anéis de
carvalhos para reconstruir os níveis de temperatura e precipitação no sul da
Grã-Bretanha durante e após a "Conspiração Bárbara" de 367 d.C.
Combinando estes dados com os relatos romanos sobreviventes,
os investigadores defendem que as secas severas de verão de 364, 365 e 366 d.C.
foram um fator determinante nestes acontecimentos cruciais.
O autor principal, Charles Norman, do Departamento de
Geografia de Cambridge, destacou, citado num comunicado, que embora não existam
muitas provas arqueológicas da "Conspiração Bárbara", os
"relatos escritos da época fornecem algum contexto",
"Mas as nossas descobertas oferecem uma explicação do
que motivou este importante acontecimento", garantiu.
Os investigadores descobriram que o sul da Grã-Bretanha
viveu uma sequência excecional de verões extremamente secos entre 364 e 366
d.C. No período entre 350 e 500 d.C., a precipitação média mensal reconstruída
durante a principal estação de crescimento (abril-julho) foi de 51 mm.
Entretanto, em 364 d.C., desceu para apenas 29 mm. O ano 365
d.C. foi ainda pior, com 28 mm, e os 37 mm do ano seguinte mantiveram a área em
crise.
"Três secas consecutivas teriam tido um impacto
devastador na produtividade da região agrícola mais importante da Grã-Bretanha
romana. Segundo os escritores romanos, isto levou à escassez de alimentos, com
todos os efeitos sociais desestabilizadores que isso acarretava",
sublinhou Ulf Büntgen, do Departamento de Geografia de Cambridge.
Entre 1836 e 2024 d.C., o sul da Grã-Bretanha só sofreu
secas de magnitude semelhante em sete ocasiões, principalmente nas últimas
décadas, e nenhuma delas foi consecutiva, realçando o quão excecionais eram
estas secas na época romana.
Os investigadores não identificaram qualquer outra grande
seca no sul da Grã-Bretanha durante o período entre 350 e 500 d.C. e
descobriram que outras partes do noroeste da Europa foram poupadas a estas
condições.
Fonte: SIC Notícias, 27 de abril de 2025
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